Causar-te-á alguma estranheza o título que escolhi para esta reflexão. Aparentemente ler e brincar são completamente díspares. Uma mais séria, outra mais ativa. Será que é mesmo assim?
As crianças assimilam o significado das coisas do mundo através do brincar, sem pressões. O brincar à medida de cada criança. Brincar deve proporcionar momentos divertidos e através deles estão, muitas vezes, também a aprender sem darem disso conta. Para brincarem basta que tenham algo essencial - tempo.
Quando falamos do prazer da leitura há algo que importa ter em conta e que tem a ver com o facto de não podermos ter o desejo de ler se não soubermos o que isso é, mas há um aspeto extremamente importante que contribui para impulsionar esse desejo: ouvir uma leitura em voz alta, que é, ao mesmo tempo, forma de expressão, lugar habitado de significados e uma forma deleitosa que nos afaga nessa partilha do prazer.
Na realidade, ouvirmos alguém ler em voz alta pode proporcionar-nos deleite e despertar em nós o desejo. Quem lê em voz alta acaba por “oferecer tesouros” e Pennac considera que para “abrir o apetite de um leitor, nada melhor do que dar-lhe a cheirar uma orgia de leitura”.
A audição da leitura através da voz de outra pessoa tem uma tripla função: cognitiva, linguística e afetiva. Estas três funções fundem-se em algo tão simples como aquilo que nos disse Pennac: se aquele que lê “se recusa a habitar a sua leitura, as palavras mantêm-se letras mortas, e isso sente-se”, mas se, pelo contrário, se ele lê e o prazer que tem prepondera nessa leitura, então também aqueles que o ouvem vão entrar nessa leitura através da voz que escutam e, tal como aquele que lê, vão desfrutar desse mesmo prazer.
Para que a leitura se converta em prazer ela deve ser ativa, criativa e habitual. Isso significa que deve ficar distante daquilo que nos fomos habituando na escola - ler traz sempre perguntas. Essa é uma leitura bem diferente e não me lembro ao longo do meu percurso de conquistar leitores. A leitura de que vos falo não tem essas mordaças. É livre e dá asas!
O olhar é uma extensão do corpo e aproxima-nos de quem escuta. Quem lê em voz alta deve ter a perceção de que deve ler com os outros e não para os outros. Duas expressões com sentidos bastante díspares. É essencial que quem lê se divirta quando o faz, assim se contagiam leitores porque ler é alegria, é brincar com as palavras que habitam os livros.
Cria risos com a leitura e permite que quem te escuta viaje, parta à descoberta e se deixe incitar através das emoções que transpões para as tuas leituras porque elas conferem diversidade e delicadeza que transformam quem lê e quem ouve. Sim, ela é um momento transformador bilateral.
Sabias que as "as pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas." (Valter Hugo Mãe)
Lembra-te, a leitura é contagiante! Contagia e deixa-te contagiar!
Elisabete Brito
Uma casa na lua
Olá, convido-te para a minha Casa na Lua!
Elisabete Brito é doutorada em Sociologia, Mestre em Educação e Bibliotecas e licenciada em Literaturas Modernas. Na escrita mora a sua forma de ser, de ler e de estar, entranhada em tudo o que faz. Com as palavras pinta o mundo, costura os sentidos, reinventa os dias e, acima de tudo, brinca. Gosta dos abraços do mar, do charme das flores e dos segredos que guardam as noites estreladas, de andar com a cabeça nas nuvens e dos mistérios cheios de poesia.
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